11 de abril de 2013

Ontem | Yesterday


Depois da revelação de ontem, são poucas as palavras que me trazem hoje aqui. Houve quem dissesse que foi corajoso. Houve quem dissesse que foi arrojado. Houve quem se comovesse. Houve quem chorasse. Houve quem tentou animar-me. Houve quem quis devolver-me a esperança. Houve quem se identificasse. Houve quem dissesse esperar que tal não lhes acontecesse. Houve comentários e houve e-mails. Se as minhas palavras e a minha exposição serviram para sensibilizar mais alguém para o tema, então valeu a pena. Se os meus aforismos e a minha manifestação servirem para, futuramente, ajudarem alguém [ou a vós mesmos(as)], então dou por bem empregue ter usado este poderoso veículo de comunicação para falar sem tabus sobre um assunto que pelos vistos muitos tentam calar -- porque ninguém gosta de falar de rubricas sérias. Porque quando eu precisei, não houve ninguém que estivesse realmente preparado para me ouvir, para me confortar. Desenganem-se os que pensam que a forma como expus foi demasiado crua e bruta. É assim, tal e qual, que se sentem todas as mulheres que tiveram vidas arrancadas do ventre. O discurso, a vontade de morrer, o desespero e a esperança em decréscimo são traços transversais a todas nós. E não importam credos, crenças, raças ou cores. Uma esperança roubada dói no coração de todas nós de modo semelhante.

Obrigada por estarem desse lado e não desistirem de me ler.

Afteryesterday’s disclosure, there are only a few words that made me come here today. Some said it was gutsy. Some said it was daring. Some were moved at that. Some cried. Some tried to cheer me up. Some tried to give me back hope. Some identified to it. Some said they were not expecting that to happen with them. Some stated it on the commentaries form and some e-mailed me. If my words and my exposure served to sensitize the subject to someone else, then they were worth it. If my aphorisms and my manifestation help someone in the future [or even yourselves], then it was worth it using this powerful means of communication to talk about a subject without taboos; a subject that many apparently try to silence -- because no one likes to talk about serious things. Because when I needed it, there was no one really prepared to listen to me, to comfort me. Don’t make a fool of yourselves thinking that the way I expressed it was raw and brutal. This is it: the way all women who have had lives ripped away from their womb feel. The speech, the wish to die, the despair and the hope in decline are traits that cut across all of us. And creeds, beliefs, races or colours don’t matter at all. A stolen hope hurts our heart in similar ways.

Thank you for being on that side and not giving up reading this.

18 comentários:

  1. Não tens que agradecer, ninguém está aqui 'obrigado'.
    Turrinhas!

    ResponderEliminar
  2. Nada me surpreendeu e ainda bem que deitaste cá para fora.
    E sim a revolta existe e de que maneira!
    Mas repito, tenho a sensação que o teu caso não é difícil de resolver, o que não vai apagar as sequelas, mas vais seguir em frente!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Vamos a ver. As respostas, para já, são muito vagas. Mas estou a mexer-me, inclusive com uma rede de médicos no estrangeiro. Quero certezas. É tudo de que preciso no momento.

      Eliminar
  3. Foi sem dúvida corajoso publicar isso e eu admiro essa atitude. Esses assuntos devem ser falados, apesar de custar :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu também acho que sim, Blackbird. Há que não ter medo de dar o nome às coisas.

      Eliminar
  4. as vezes (diria msm sempre) faz bem deitar cá para fora o que nos atormenta.
    Tenho a certeza que te serviu como terapia

    Daqui para a frente é levar a vida um dia de cada vez e ser smp forte


    Bjs* grandes de força

    http://se-tu-saltas-eu-salto.blogspot.pt/

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Nunca antes isso havia feito tanto sentido: um dia de cada vez.

      Eliminar
  5. Só quem passa por elas é que sabe... e realmente nunca se fala muito das mulheres que perdem filhos no ventre. Dá-se sempre mais tempo de antena a quem não consegue engravidar e precisa de ajuda específica, o que é compreensível...mas realmente parece que um bebé que já existe dentro do ventre da mãe não tem interesse nenhum do ponto de vista social. Levei a pensar durante a noite, à distância, na minha gravidez..do que senti na altura, dos movimentos da minha filha que eu senti tão fortemente dentro de mim, da preparação para o parto, de tudo que cumpri à risca para que tudo corresse bem, e não correu...(isso é outra história)... mas no fim tudo acabou por ficar bem, e ela cá está comigo,algo que tu não podes ainda sentir, mas um dia vais sentir.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. No outro dia um especialista dizia que era mais marcante do ponto de vista psicológico a perda gestacional, do que a incapacidade de engravidar. Porque a primeira acarreta uma esperança roubada do pior modo, com alterações físicas graves. E é verdade... O sangue que perdi nos últimos meses dava para dezenas de transfusões a favor de terceiros. :-S

      Eliminar
  6. Já publiquei as tuas umlilicalidades vermelhas no meu cantinho!

    ResponderEliminar
  7. Estamos cá para isso! ;)
    Nunca percebi porque é que não se fala mais abertamente sobre o tema...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Das duas, uma: ou as pessoas ignoram de todo o tema, ou então subvalorizam-no.

      Eliminar
  8. Muito bem dito!
    Fala, fala sempre o que te vai na alma. Estaremos aqui para te ouvir :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada, Miss Moustache. Eu vou continuando a deitar cá para fora o que tiver de ser deitado.

      Eliminar